quinta-feira, novembro 23, 2006

A l i m e n t o . . .

Quando avaliamos a gravidade do ato de tirar uma vida, não devemos levar em conta a raça, o sexo ou a espécie a que pertence o indivíduo, mas sim as características do ser individual que está sendo morto, como por exemplo seu próprio desejo de continuar a viver, ou o tipo de vida que é capaz de viver.
Peter Singer - Vida Ética - Pag. 12.
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Pesquisa de Foto - Nadja Rolim
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Reproduzo a seguir, trechos de Editorial do The New York Times:

“O jogo fraudulento de comércio não está apenas semeando a pobreza ao redor do mundo, mas também muito ressentimento. Nas Filipinas, uma ex-colônia americana, nossa política de comércio agrícola é vista como um plano para perpetuar o imperialismo. No Vietnã, um país que foi capaz de reduzir sua pobreza rural apenas quando se desviou de sua ortodoxia marxista e permitiu que empreendedores tivessem acesso aos mercados globais, um exportador de peixes desesperado nos disse: "Nós nos perguntamos se vocês nos desejam mal atualmente tanto quanto no passado". O Congresso americano ignorou até a ciência, para decretar que o bagre do Vietnã, que se tornou popular entre os consumidores americanos, não é bagre, e portanto não pode ser comercializado como tal.
Os países desenvolvidos canalizam cerca de US$ 1 bilhão por dia em subsídios para seus próprios agricultores, encorajando a superprodução, que provoca queda dos preços. Os agricultores dos países pobres não conseguem competir com os produtos subsidiados, mesmo dentro de seus próprios países. Nos últimos anos, os agricultores americanos têm conseguido derrubar o preço do algodão, trigo, arroz, milho e outros produtos nos mercados mundiais a preços que nem começam a cobrir os custos de produção, tudo por cortesia dos contribuintes.
A traição de Washington aos seus princípios de livre comércio, ultrajaram não apenas os países mais pobres, mas também alguns aliados exportadores de alimentos, como a Austrália. O governo Bush podia ter-se unido a países como Austrália e Brasil em Cancún. Nossos representantes de comércio poderiam ter trabalhado para superar tanto os interesses mais mesquinhos do lobby agrícola americano, quanto o próprio protecionismo defensivo dos países em desenvolvimento. Em vez disso, os Estados Unidos se aliaram docilmente ao grupo de países que têm medo da concorrência justa.
Em uma aldeia onde se cultiva algodão em Burkina Fasso, nós vimos um escola com duas salas, mas devido à falta de verbas, apenas uma sala de aula está concluída. O mais embaraçoso para um americano é dar-se conta de que a cultura por trás das políticas agrícolas do nosso país, com suas barreiras comerciais e os bilhões de dólares em subsídios, contribui poderosamente para o atraso e as dificuldades vividas pelos produtores rurais dos países pobres e em desenvolvimento”
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Na Cúpula Mundial da Alimentação, 186 chefes de Estado e de governo apresentaram sua meta de reduzir a quantidade de famintos (815 milhões) pela metade até 2015. Hoje, mais de dez anos depois, a FAO estima que os que estão nessa situação cheguem a 852 milhões, ou seja, cerca de 13% da população mundial, sem alimento diário suficiente para ter uma vida sã.
Com suas subvenções intactas, os Estados Unidos inundam de alimentos baratos e subsidiados as nações em desenvolvimento, destruindo a produção dos pequenos agricultores desses países. O México, por exemplo, cultiva milho por mais de dez mil anos, mas, em razão do Tratado de Livre Comércio da América do Norte – ALCA - que alguns supunham, igualaria o campo da competição comercial, abriu seus mercados para as importações norte-americanas, incluindo o milho. Os produtores mexicanos, a maioria mini e pequenos produtores rurais, não puderam competir contra os gigantes produtores de milho dos Estados Unidos. Embora nos últimos 50 anos as riquezas do Planeta tenham sido multiplicadas por sete, elas nunca estiveram tão mal distribuídas, pois 20% da população mundial detêm 82,7% das riquezas, enquanto os 20% mais pobres vivem mergulhados na miséria, tentando sobreviver com menos de US$ 1 diário; e 60% da população mundial – mais de 3 bilhões de pessoas – com menos de US$ 2.
O hemisfério Norte, onde vive 25% da população global, consome 70% da energia mundial, 75% dos metais, 85% da madeira e 60% dos alimentos. Em todo o mundo, os cerca de 1,3 bilhão de pessoas que vivem na pobreza extrema, não têm acesso sequer a água potável.
Segundo dados da ONU, para responder às necessidades básicas de toda a população do Globo, bastaria retirar 4% da riqueza acumulada pelas 225 maiores fortunas, pois, atingir a satisfação universal das necessidades sanitárias e nutricionais, custaria apenas US$ 13 bilhões. A cada 4 segundos uma pessoa morre de fome. Ou seja, 24 mil pessoas por dia, quase 9 milhões por ano. A fome mata mais pessoas que o terrorismo internacional que, não obstante, é combatido sem tréguas por todos os países ricos, OTAN e ONU, com os EUA à frente.
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