quinta-feira, fevereiro 14, 2008

O Talibã Americano e Outras Mazelas Religiosas

Bárbaros americanos travestidos de soldados da liberdade.
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O “talibã americano”, uma denominação que a cada dia ganha mais força na mídia americana mais independente, é formado pelos cristãos norte americanos do”arrebatamento”, cuja poderosa influência sobre a política do governo Bush para o Oriente Médio é orientada por sua crença bíblica no fato de que Israel tem um direito garantido por Deus a todas as terras da Palestina.
Alguns cristãos do “arrebatamento” vão mais além e chegam a torcer por uma guerra nuclear, porque a interpretam como o “armageddon”, que, de acordo com sua bizarra mas perturbadoramente comum interpretação do livro do Apocalipse, apressará a volta de Cristo. Richar Dawkins em seu livro “Deus, um Delírio”, diz não conseguir fazer um comentário sobre o talibã americano, melhor do que o de San Harris em seu “Carta a uma Nação Cristã”:
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“Não é, portanto, exagero dizer que, se a cidade de Nova York de repente fosse substituída por uma bola de fogo, uma porcentagem significativa da população americana veria um lado bom no cogumelo de fumaça que se formaria em seguida, já que ele lhes sugeriria que a melhor coisa que pode acontecer está prestes a acontecer: o retorno de Cristo. Devia ser de uma obviedade ofuscante que esse tipo de crença não nos ajuda muito a criar um futuro duradouro para nós mesmos – em termos sociais, econômicos, ambientais ou geopolíticos. Imagine as conseqüências da possibilidade de qualquer componente significativo do governo dos Estados Unidos realmente acreditar que o mundo está prestes a acabar e que esse fim será ‘glorioso’. O fato de quase metade da população americana aparentemente acreditar nisso, com base puramente no dogma religioso, deveria ser considerado uma emergência intelectual”.
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Essas pessoas representam o lado negro do absolutismo religioso, e frequentemente são chamadas de extremistas, mas, a tese de Dawkins, neste ponto, é de que “até mesmo a religião amena e moderna ajuda a proporcionar o clima de fé no qual o extremismo floresce naturalmente”.
Em julho de 2005, Londres foi vítima de um ataque suicida a bomba, coordenado e executado por quatro jovens cidadãos britânicos, educados, que gostavam de críquete, o tipo de jovens cuja companhia qualquer inglês teria apreciado.
Só a fé religiosa é forte o bastante para motivar uma loucura tão completa em pessoas sãs e decentes. Mas uma vez – segundo Dawkins – San Harris defendeu a questão com uma aspereza perspicaz, pegando o exemplo do líder da Al – Qaeda, Osama bin Laden – que por sinal não teve nada a ver com os ataques de Londres.
Por que alguém quereria destruir o World Trade Centes e todo mundo dentro dele? Chamar Bin Ladem de “mau” é fugir da responsabilidade de dar uma resposta adequada a pergunta tão pertinente.
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“A resposta para essa pertunta é óbvia – no mínimo por ela ter sido pacientemente articulada ad nauseam pelo próprio Bin Laden. A resposta é que homens como Bin Laden realmente acreditam no que dizem acreditar. Eles acreditam na veracidade literal do Corão. Por que dezenove homens cultos, de classe média, trocaram sua vida neste mundo pelo privilégio de matar milhares da nossa espécie? Porque acreditavam que iriam direto para o paraíso por fazê-lo. É raro encontrar o comportamento de seres humanos tão completa e satisfatoriamente explicado. Por que temos tanta relutância em aceitar essa explicação?”.
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A respeitada jornalista Muriel Gray, num texto no Herald (de Glasgow) de 24 de julho de 2005, defendeu uma tese parecida, nesse caso referindo-se aos ataques de Londres:
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“Todo mundo está sendo acusado, desde a óbvia dupla de vilões George W. Bush e Tony Blair até a inação das ‘comunidades’ muçulmanas. Mas nunca foi tão claro que só há um lugar em que pôr a culpa, e ele sempre existiu. A causa de toda essa tragédia, do massacre, da violência, do terror e da ignorância, é, obviamente, a religião por si só, e, se parece ridículo ter de dizer uma realidade tão óbvia, o fato é que o governo e a imprensa estão se saindo muito bem em fingir que não é assim que as coisas são”.
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Nossos políticos ocidentais evitam mencionar a palavra que começa com R (religião), e em vez disso caracterizam sua batalha como uma guerra contra o “terror”, como se o terror fosse uma espécie de espírito ou força, com vontades e razões. Ou caracterizam os terroristas como pessoas motivadas pela pura “maldade”. Mas elas não são motivadas pelo mal. Por mais equivocadas que as consideremos, elas são motivadas, como os assassinos cristãos de médicos que fazem abortos, pelo que elas entendem ser a execução correta e fiel daquilo que sua religião lhes diz. Não são psicóticos; são idealistas religiosos que, ao seu próprio ver, são racionais. Percebem seus atos como bons, não por causa de uma idiossincrasia pessoal distorcida, e não porque tenham sido possuídos por Satã, mas porque foram ensinados, desde o berço, a ter uma fé total e indiscutível.
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